Por André Luiz Turetta, consultor do Senai Centro Internacional de Inovação
Sofrendo os efeitos da limitação dos recursos naturais, bem como as inconsistências do regime capitalista tradicional, a humanidade entra na era da economia compartilhada. O capitalismo que tinha como foco exclusivamente o lucro, por meio da extração, produção e venda seriada, e que era órfão de tecnologia, agora é remodelado pela criatividade, pela conectividade, quando o coletivo e a experimentação passam a ter mais valor do que a posse do bem físico. Na economia compartilhada, ou colaborativa, a premissa básica é o foco no coletivo.
A coletivização de recursos e estruturas tem ganhado espaço em diversos setores, graças à ampliação das conexões entre ofertantes e demandantes. Novos modelos de negócios têm surgido para criar valor a partir da otimização dos usos de infraestruturas parcialmente ociosas e custosas, democratizando de um lado o empreendedorismo, e de outro, o acesso por parte de clientes de menor poder aquisitivo a bens e serviços. Na economia compartilhada, três pilares sustentam essa transformação de contexto e a quebra de paradigma do capital tradicional: o mercado da redistribuição, o estilo de vida colaborativo e o sistema produto-serviço.
No mercado da redistribuição, a lógica é otimizar a utilização de um determinado ativo ou espaço, deslocando-o de um contexto em que não tem sua plena utilização, para outro em que ele possa completar sua capacidade. Incluímos aqui, os serviços de transporte como o Uber, em que quaisquer motoristas podem gerar valor com seu bem, democratizando o acesso ao transporte a pessoas que não possuem carro, mas usam a função da mobilidade. No Paraná, também temos exemplos: A Fleety, uma startup recém-nascida, oferece uma plataforma que conecta donos de veículos e pessoas que buscam locar carros sem a burocracia e com valores mais acessíveis do que os das locadoras tradicionais de veículos. Na mesma linha, o Senai, tem investido em Laboratórios Abertos, com espaços para prototipagem de ideias que tornam-se acessíveis a pequenos empreendedores e não apenas aos alunos ou empresas clientes da instituição.
Paralelo ao mercado da redistribuição, o estilo de vida colaborativo, surge como uma nova postura, um novo hábito de relacionamento social. Trata-se da pré-disposição do indivíduo em compartilhar habilidades, recursos e conhecimentos, com ou sem foco em negócio. Nos espaços de coworking, é fácil encontrar a troca de habilidades entre profissionais que utilizam estes espaços compartilhados.
O que muda na indústria?
Na indústria, duas configurações podem potencializar a competitividade e a inovação. São elas: o crowdfunding (financiamento coletivo) e o crowdsourcing (a multidão como fonte de criação). Ao passo que o crowdfunding, permite que projetos atraentes deixem de ser ideias e se tornem produtos do mercado, por meio da angariação de doações espontâneas para o processo de pesquisa e desenvolvimento ou da produção de lote piloto, o crowdsourcing, com intermediação de plataformas online, pode apoiar empresas na melhoria de ideias, projetos e até mesmo na resolução de problemas. Na plataforma de inovação aberta Inove Mais PR algumas grandes empresas já conseguiram se conectar com startups e pequenas empresas, que lhe proveram soluções inovadoras para problemas tecnológicos.
Imagem: Wikimedia
O financiamento coletivo tem ajudado inclusive pequenas construtoras que buscam recursos junto a pequenos investidores e já tem sido cotado como uma alternativa para financiamento de programas estudantis e sociais. O Paraná já possui uma cultura bastante consolidada de cooperativismo, que surgiu na agricultura e hoje tem permitido que agroindústrias, bancos e pessoas físicas ofertem e acessem produtos e serviços locais a preços competitivos, gerando valor e emprego para o estado. O desafio é portar este mesmo espírito para outros setores mais tradicionais, como o setor metalmecânico e o da construção civil, por exemplo.
Agora, o foco é no consumidor
O último pilar da economia compartilhada é o sistema produto-serviço. Basicamente, o foco do consumidor e da indústria neste sistema está na experiência e na função que o bem proporciona e não na aquisição do bem em si. Um exemplo claro é a assinatura de pneus: um novo modelo de negócio validado ao longo de vários anos pela Michelin e que se tornou viável recentemente. Imagine se livrar do dever de comprar e trocar pneus e deixar isso ser gerenciado pela própria dona do pneu, isto é, a fabricante?! Ou então, você como dentista, deixar de comprar e realizar manutenção de compressores de ar, e pagar uma mensalidade, para que a indústria realize isso periodicamente para você? A indústria pode apostar na agregação de novos serviços aos seus produtos, ela não precisa necessariamente mudar o modelo de negócio, mas ofertar soluções mais completas para seus clientes.
A indústria pode ainda passar a compartilhar a aquisição de tecnologias, know-how e o uso de máquinas. A vantagem do uso compartilhado de máquinas e equipamentos de alto valor, é que quando este atinge sua obsolescência, a empresa que utilizou poucas horas frente à empresa que o utilizou muitas horas, também usufruirá de um novo bem. Se a pequena empresa utilizasse o mesmo bem que a grande empresa, de forma individual, não teria a mesma capacidade para renovar o equipamento com a mesma velocidade.
Como incentivar esse modelo
Finalmente, o primeiro passo para que a economia compartilhada ganhe fôlego e gere vantagens competitivas para a indústria é mudar o modelo mental do empresariado que ainda resiste em colaborar ou participar de associações e sindicatos. O segundo passo é a integração da empresa com o ecossistema do qual faz parte. As universidades, as administrações públicas, como prefeituras e governos, e outras instituições de ensino, ciência e tecnologia, possuem papel fundamental no amadurecimento do ambiente e na articulação para construção da infraestrutura necessária para a conexão virtual e física de todos os atores.
Ao passo em que a economia compartilhada depende da conexão entre os indivíduos para gerar valor para ambos, precisamos nos perguntar, que valor geramos para a sociedade e para o ambiente em que estamos inseridos, ao nos conectarmos? Qual o impacto dessa interação? Afinal, o grande objetivo da economia compartilhada é otimizar as capacidades já instaladas, ocupando os espaços de forma inteligente e diminuindo o impacto ambiental, colocando porém, o empreendedorismo como protagonista das ações de valor comunitário.
Este texto é o extrato das contribuições na mesa redonda do Forum Eletrometalcon 2016, do qual participaram Edson Campagnolo, presidente da Fiep, José Carlos Salgueiro, vice-presidente do Sinduscon Norte do Paraná, Valter Orsi, presidente do Sindimetal Norte do Paraná e o prefeito de Londrina, Alexandre Kireeff.