BIM: A digitalização que está transformando a construção civil no Brasil

Imagine um canteiro de obras onde erros entre projeto e execução são quase inexistentes, onde cada fase da construção conversa com a outra de forma integrada, reduzindo custos, prazos e desperdícios. Essa é a realidade que o Building Information Modeling (BIM) começa a desenhar para o setor da construção civil no Brasil. Mais do que um software, o BIM representa uma verdadeira revolução nos processos construtivos, promovendo produtividade, sustentabilidade e inovação.
Nos últimos anos, mesmo com os desafios enfrentados pelo setor, o uso da tecnologia BIM vem crescendo de forma constante. Os dados da mais recente Sondagem da Construção, realizada pela FGV IBRE em março de 2024, mostram que 20,6% das empresas do setor já utilizam a tecnologia, com destaque para as empresas de Edificações Residenciais, onde o uso alcança 37,2%. Se compararmos com os 9,2% registrados em 2018, o avanço é significativo — e reflexo de um movimento articulado entre setor público, iniciativa privada e entidades representativas da construção.
O que é BIM, afinal?
O BIM (Modelagem da Informação da Construção) é um processo colaborativo baseado em modelos tridimensionais inteligentes, que integra as diferentes fases de um projeto de construção: da concepção à operação e manutenção da edificação. Com o BIM, cada elemento da obra (estruturas, sistemas elétricos, hidráulicos, acabamentos) está conectado em um modelo digital centralizado, com informações detalhadas que vão muito além da geometria.
Esse modelo funciona como uma construção digital, permitindo não só visualizar, mas analisar, simular e planejar cada etapa com alto grau de precisão. A tecnologia também facilita a comunicação entre todos os envolvidos — arquitetos, engenheiros, construtores, gestores e até equipes de manutenção — promovendo uma cultura de integração e tomada de decisão mais qualificada.
Vantagens reais para quem constrói
Os benefícios da adoção do BIM são vastos e impactam diretamente a eficiência das obras:
● Redução de erros e retrabalhos: Com todos os sistemas integrados, é possível
detectar conflitos de projeto antes mesmo do início da obra.
● Mais produtividade e menos desperdício: A precisão nas quantificações e a
antecipação de problemas evitam o uso desnecessário de materiais e retrabalhos.
● Melhor planejamento orçamentário: Os custos são mais previsíveis e rastreáveis.
● Sustentabilidade: A redução de resíduos e o uso mais consciente dos recursos tornam
o processo construtivo mais sustentável.
● Colaboração em tempo real: Profissionais de diferentes áreas acessam e editam simultaneamente
o modelo, otimizando o fluxo de trabalho.
Além disso, o BIM pode ser combinado a outras tecnologias — como drones, realidade aumentada, impressoras 3D e inteligência artificial — ampliando ainda mais o potencial de inovação nos canteiros de obra.
Mas por que o BIM ainda não é uma realidade em todo o setor?
Apesar dos avanços, o caminho para a plena disseminação do BIM no Brasil ainda enfrenta
obstáculos consideráveis. A sondagem da FGV IBRE de março de 2024 mostra que 61,5% das empresas ainda
não utilizam a ferramenta, e 17,9% não sabem dizer se fazem uso — o que indica um elevado nível
de desconhecimento sobre o tema. Entre os principais motivos apontados para não adoção da tecnologia,
destacam-se: a falta de conhecimento técnico (30,7%), a percepção de que não há demanda
(33,5%) e o custo de implementação e capacitação (16,3%).
A resistência à mudança também é um fator relevante. O BIM exige uma mudança de mentalidade por parte dos gestores, além de investimentos em software e treinamento para todas as etapas do processo — de projetistas a operários do canteiro. Em um setor historicamente pouco digitalizado, esses passos ainda são vistos como barreiras para muitas empresas, especialmente de pequeno e médio porte.
Esforço coordenado
A boa notícia é que há um esforço coordenado para mudar esse cenário. Desde 2018, o governo federal instituiu a Estratégia Nacional de Disseminação do BIM (Estratégia BIM BR), com metas progressivas de adoção da tecnologia em obras públicas até 2028. A criação do BIM Fórum Brasil e o lançamento do Projeto ConstruaBrasil também têm sido fundamentais nesse processo.
O ConstruaBrasil, por exemplo, promoveu a criação de modelos educacionais para ensino de BIM em universidades, desenvolveu estudos para sua implementação no setor público e disponibilizou conteúdos gratuitos para capacitação. A atuação de entidades como CBIC, ABRAMAT, ASBEA e SindusCon-SP também tem impulsionado a realização de eventos e treinamentos técnicos sobre o tema.
Esse movimento colaborativo, envolvendo governo, setor privado, instituições acadêmicas e associações, tem sido crucial para quebrar as barreiras de entrada e ampliar o conhecimento sobre a tecnologia.
Um futuro mais digital e sustentável
A falta de previsibilidade na demanda, a reforma tributária em curso e a escassez de mão de obra qualificada ainda são entraves relevantes. Mas justamente por isso, o investimento em tecnologias como o BIM pode ser o diferencial competitivo que vai permitir às empresas enfrentar esses desafios de forma mais estratégica e eficiente.
Além disso, a integração do BIM com inteligência artificial já começa a abrir novas possibilidades. Imagine um sistema que, com base no modelo BIM, consegue prever atrasos, otimizar cronogramas e sugerir alterações em tempo real para reduzir custos. Essa realidade está mais próxima do que parece — e o setor da construção tem tudo a ganhar com ela.
Cabe agora aos gestores, profissionais e tomadores de decisão abraçarem essa mudança, investirem em capacitação e se engajarem na jornada da transformação digital. Porque o futuro da construção — mais inteligente, sustentável e eficiente — já começou. E ele é BIM.