Com a indústria 4.0 é preciso investir em digitalização e atuar de maneira assertiva
Cedo ou tarde a digitalização acontece e o início desta década nos ensinou isso com intensidade. A partir da adoção de sistemas informatizados e automação industrial, trilhamos uma jornada por mais de três décadas. Implementamos sistemas de fabricação automatizados com a adoção de circuitos digitais e controladores programáveis em diversos setores. Até mesmo setores em que o trabalho é mais dependente da mão de obra artesanal houve modernização com máquinas eletrônicas e formas de assistência ao operador. Isso sem comentar a agilidade que surge com a adoção de computadores e softwares para auxílio à gestão de empresas e seus processos, seja com sistemas ERP ou mesmo planilhas de dados.
No início da década passada fomos arrebatados por uma nova notícia: "aí vem uma nova revolução industrial". Chamada de Indústria 4.0, a convergência de tecnologias já implantadas no chão de fábrica ganharam uma nova roupagem, prometendo digitalização de ponta a ponta. Englobando das máquinas até o cliente final, passando por toda cadeia de suprimentos até a última milha. Surpreendidos pelo susto, começamos a tentar entender melhor esta nova tendência, e questionar qual o papel de cada um de nós. Já aprendemos que a era da rápida informação depende de algo muito importante: os dados. Eles passaram a ser um dos ativos mais importantes para as corporações.
Com esse aprendizado precisamos criar, então, o nosso plano de ação. O cenário atual de produção nos indica um caminho claro, temos inúmeras indústrias, de diversos setores, que precisam se inserir de forma digital na sua cadeia produtiva. Saber mensurar de forma automatizada seus tempos de produção, entender seus motivos de ineficiência, e atuar de forma assertiva na melhoria contínua de seus processos é fundamental, e a digitalização é o primeiro caminho para atingir estes objetivos.
A vivência recente de contato com chão de fábrica nos mostrou a dificuldade de coletar esses dados, mas com a evolução de dispositivos eletrônicos já é possível superar os desafios. Atualmente já podemos monitorar máquinas e pessoas, por meio de apontamentos manuais e automáticos de produção, mas a principal lacuna se encontra na transformação de dados em informações.
A necessidade passa a ser a análise da informação transmitida dessas máquinas, entender o andamento da produção em tempo real - tanto “ao vivo” quanto deterministicamente - para se tomar decisões ágeis e assertivas, principalmente em alocação eficiente de recursos máquinas e humanos. De um jeito ou de outro, os maiores puxam os menores, e já observamos este movimento acontecendo. Se você acha que esta realidade não é para você, é porque seus clientes e fornecedores ainda não solicitaram essa demanda. O entendimento do andamento de ordens de produção e fabricação será fundamental para suprir a lacuna entre demanda e oferta de produção, por isso o pilar de digitalização é tão importante para a integração prometida pela indústria 4.0.
Falando em lacuna, muitas empresas, de todos os portes, já possuem sistemas de gestão, que auxiliam a entender as necessidades e demandas de produção. Várias destas possuem sistema de monitoramento de chão de fábrica, chamados sistemas supervisórios e aquisição de dados. Porém ainda há uma nebulosidade na integração destes sistemas.
Acredito que os passos que já estamos trilhando nos levam a esta integração, cada vez mais trazendo as informações de custos de produção de forma medida, e não estimada apenas. Para as indústrias de todos os setores, recomendo a adoção de digitalização principalmente no processo gargalo, para medir, ter dados e por consequência informações relevantes. Só assim este gargalo poderá ser “transferido para outro ponto”, sendo este novo ponto a nova necessidade de digitalização. Ao completar o ciclo de melhoria contínua, que na verdade nunca se completa ou acaba, os gestores de produção passam a ter melhor base para alocação de recursos e esforços.
Não posso deixar de alertar a importância das atividades fundamentais de melhoria de produção, como implementação de ferramentas de manufatura enxuta e atividades similares de escritório e fábrica. Essas melhorias orientam ações principais, pois se o foco da digitalização é otimizar, deve-se eliminar o desperdício para não que não tenhamos somente a otimização do processo em que ele está presente.
*Artigo de opinião escrito por Jorge Augusto Pessatto Mondadori consultor PDI do Instituto Senai de Tecnologia da Informação e Comunicação.