A demanda por produtos mais sustentáveis, a necessidade da logística reversa e da responsabilidade pelo ciclo de vida dos produtos oriundos da produção industrial é uma necessidade que vem crescendo com as emergências ambientais presentes. As agroindústrias recebem cada vez mais destaque no crescimento mundial, sendo a indústria azeitoneira um mercado em expansão e que trazem como resíduos do seu processo sólidos e líquidos, tais como os caroços, o bagaço, a água de lavagem das azeitonas, entre outros subprodutos, que devem ser tratados ou reaproveitados para prevenir danos ambientais oriundos do seu mau direcionamento.

Esses resíduos possuem um alto potencial poluente, uma vez que possuem uma grande carga orgânica (DBO) e outras substâncias que podem gerar problemas ambientais poluindo águas e solos, devido ao seu grande conteúdo de fenólicos, lipídios e ácidos orgânicos.

Em contrapartida, estes resíduos possuem um excelente potencial para serem reaproveitados, seja na produção de biochar, biogás, biofertilizantes, ração animal, entre outros produtos. Esse aproveitamento, além de trazer uma gestão sustentável dos resíduos do processo, podem agregar como mais um produto, trazendo o conceito de bioeconomia para o processo produtivo.

Pensando em soluções sustentáveis para essa demanda, o IST em Meio Ambiente e Química, vem desenvolvendo soluções bioeconomicas para estes processos. Um deles é a produção de biocarvão, também conhecido como biochar (bio de biomass (biomassa) e char de charcoal (carvão), que é um produto obtido pela carbonização de materiais de origem vegetal ou animal, sendo, para este caso, a utilização dos caroços de azeitona como matéria prima.

A carbonização é um processo de aquecimento sem a presença de oxigênio, que transforma a matéria orgânica em carvão. Durante a carbonização dos caroços de azeitona, são gerados gases e líquidos, que podem ser utilizados como fontes de energia ou convertidos em outros produtos.

O biochar de caroço de azeitona possui características semelhantes ao carvão ativado, sendo poroso e capaz de adsorver substâncias químicas indesejadas, como poluentes e metais pesados, na água e no solo. Essa característica faz com que esse resíduo possa ser incorporado novamente no processo, como um componente de tratamento dos efluentes gerados na produção das azeitonas para consumo. Além disso, este biochar pode ser utilizado como condicionador de solo, melhorando a retenção de água e de nutrientes, promovendo o crescimento das plantas e reduzindo a necessidade de fertilizantes. Também pode ser utilizado na agricultura como meio de cultivo para microrganismos benéficos do solo, auxiliando no controle de doenças e pragas e ainda, como matéria-prima na produção de diversos materiais, como tijolos e cerâmicas.

Essa versatilidade do biochar de caroço de azeitona faz com que ele seja considerado uma alternativa sustentável, além de atender aos conceitos de bioeconomia, pois utiliza um resíduo agrícola que seria descartado, contribuindo para a redução do desperdício e a preservação do meio ambiente.

 

Fabiana Martins da Silveira Annunziato - Bolsista PDI