Como transformar a indústria com Ciência de Dados e Inovação Tecnológica?
A ciência de dados tem se consolidado como um dos pilares da indústria 4.0, oferecendo ferramentas imprescindíveis para transformar desafios em oportunidades no ambiente industrial. Durante o Data Science Summit 2024, realizado de 6 a 8 de novembro no Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), especialistas destacaram como o uso estratégico de dados tem impulsionado a otimização de processos produtivos, a personalização da produção em massa e a manutenção preditiva, aspectos fundamentais para atender às crescentes demandas do setor, que exige eficiência, personalização e redução de custos.
O evento contou com a participação de Jackson Bisi, vice-coordenador do Conselho Temático de Inovação da Fiep, que representou a Federação na cerimônia de abertura. Além disso, o evento contou com a presença de Lucas Felippe, consultor da Aceleradora Habitat Senai, que compartilhou a trajetória da aceleradora e destacou algumas das soluções inovadoras desenvolvidas pelas startups que integram o projeto, reforçando a importância da colaboração entre a academia, o mercado e as novas tecnologias para fomentar a inovação na indústria.
Durante o encontro, Felippe explicou como a Aceleradora Habitat Senai se dedica a promover o empreendedorismo industrial, oferecendo suporte por meio de mentores, parceiros e especialistas. O profissional também ressaltou o compromisso da instituição com o aprendizado contínuo e a melhoria constante, especialmente na integração com o ecossistema de inovação, acelerando startups nas áreas de IoT, ciência de dados, P&D e inteligência artificial.
Em um contexto em que Smart Cities e Smart Things redefinem a interação entre tecnologia e sociedade, o encontro reforçou a importância de tratar os dados como ativos estratégicos, capazes de fundamentar decisões inteligentes e garantir competitividade para diferentes setores. Um dos principais pontos discutidos durante o encontro foi o impacto das tecnologias quânticas.
Computação quântica
Rogério Ruivo, especialista da área e co-fundador da Dobslit, uma das primeiras startups de computação quântica do Brasil, destacou que há duas gerações nas tecnologias quânticas: a primeira, presente em dispositivos como CDs e lasers, e a segunda que utiliza fenômenos avançados da mecânica quântica, como o tunelamento quântico, emaranhamento e superposição. Dentro desta segunda geração, estão as tecnologias de computação quântica, sensores e comunicações quânticas.
Segundo o profissional, a computação quântica, em particular, mostra-se promissora para resolver problemas que os computadores clássicos, incluindo os supercomputadores têm para solucionar. Ruivo também destacou o fornecimento, pela sua empresa, do primeiro computador quântico educacional para o Senai São Paulo. O Gemini Mini utiliza a técnica de ressonância magnética nuclear, permitindo que opere em temperatura ambiente, o que o torna adequado para a realização de experimentos simples e como ferramenta didática em cursos voltados ao ensino dos fundamentos da computação quântica.
Para isso, Ruivo contou que usa equipamentos avançados, como os da IBM, acessados via nuvem, e tem parcerias com empresas como a Embraer e a Ebisi, desenvolvendo casos de uso aplicados na indústria. O profissional também contou que, em dezembro, será inaugurada a Plataforma Industrial de Computação Quântica, em colaboração com o Senai São Paulo, que integrará serviços industriais e contará com a Embraer como uma das usuárias.
Metodologias para IA
Charles Dalla Costa Félix, Cientista de Dados e cofundador da Kietec/Datakie, e Durval Dellê Neto, CTO e cofundador da mesma empresa, compartilharam, em sua palestra, as metodologias essenciais para o sucesso em Inteligência Artificial.
Félix analisou o cenário atual, destacando que muitas iniciativas de IA não atingem os resultados esperados devido aos erros cometidos pelas empresas, como tentar aplicar a tecnologia de forma genérica. “Um dos maiores erros na implementação de soluções de IA é a falta de foco no problema a ser resolvido. Além disso, muitas empresas cometem o equívoco de investir pesado antes de validar as ideias com uma Prova de Conceito (POC)”, explicou Félix.
Ainda segundo o profissional, a vantagem de usar a metodologia CRISP-ML(Q) está relacionada à sua estruturação, que permite abordar problemas de forma replicável, ágil e organizada. “Esse modelo, aplicável a diversos setores, como indústria, comércio e serviços, oferece um roteiro claro para identificar ferramentas, problemas e soluções, assegurando um desenvolvimento mais seguro dos projetos”, afirma.
De acordo com o cientista de dados, a eficácia da IA depende de dados bem estruturados e qualificados, além de uma definição precisa do problema. Ele reforçou a importância de metodologias como o CRISP-DM para orientar o processo de análise de dados de maneira ágil e eficiente.
Integração entre humanos e máquinas
Alessandro de Oliveira Faria, cofundador da OITI TECHNOLOGIES, destacou em sua palestra a relevância da inteligência artificial (IA) na inovação empresarial, ressaltando como a tecnologia pode devolver tempo valioso aos profissionais e como a integração entre humanos e máquinas é essencial para o futuro.
Ele argumentou que a IA generativa transformará o comportamento humano de maneira tão profunda quanto a internet, as redes sociais e os smartphones. Contudo, Alessandro frisou que a IA não deve ser encarada como uma tecnologia isolada, mas sim como uma ferramenta cotidiana, capaz de facilitar tanto o trabalho quanto as tarefas do dia a dia. Ele enfatizou que, ao contrário do temor de que a IA substitua empregos, ela pode recuperar até metade do tempo das pessoas, permitindo que elas se dediquem a atividades mais criativas e menos repetitivas. Alessandro também destacou os avanços da IA na área da saúde, como no diagnóstico precoce do câncer de mama, e defendeu que, em diferentes setores, a tecnologia possibilita que os profissionais se concentrem em um atendimento mais humanizado.
Outro ponto abordado por Alessandro foi o impacto ambiental da IA em nuvem, alertando para o elevado consumo de recursos dessas soluções. Como alternativa, ele propôs o uso de uma IA local e personalizada, uma abordagem "dentro de casa" que, segundo ele, oferece vantagens em sustentabilidade, segurança e soberania de dados. Ele explicou que esse modelo permite que cada setor tenha controle total sobre suas informações, além de proporcionar um desempenho mais eficiente e adaptado às necessidades específicas.
Controle de acesso e monitoramento
Já Klaubert Herr, representante da IBM, ressaltou a importância de priorizar a segurança no uso de dados desde as etapas iniciais dos processos que envolvem a implementação da IA. Ele destacou que as equipes de segurança devem estar envolvidas desde o planejamento, e não apenas no final, assegurando o monitoramento dos dados, o controle de acesso e uma curadoria eficiente. Também apontou a governança de dados como um elemento fundamental para o sucesso na proteção dessas informações.
Ao abordar a inteligência artificial, Klaubert mencionou que a IBM, referência em IA e segurança, está desenvolvendo soluções avançadas para proteger sistemas baseados em modelos de linguagem (LLM). Ele destacou o lançamento do Granite Guardian, um motor de LLM projetado para atuar como uma barreira de proteção para esses modelos.
Visão computacional
Os avanços na visão computacional, destacados por Leonardo Marques, especialista em IA no Instituto de Desenvolvimento Tecnológico, evidenciam o crescimento exponencial dessa tecnologia e suas aplicações práticas.
Antes considerada de difícil acesso, a visão computacional hoje se torna mais acessível, com aplicações já consolidadas em reconhecimento facial, segurança e monitoramento. De acordo com o especialista, a aplicação da tecnologia tem sido aplicada em ambientes de alta periculosidade, como sistemas de perímetros virtuais capazes de monitorar se funcionários estão seguindo normas de segurança ou até detectar movimentos em áreas de risco, como quedas em piscinas. Essas soluções exemplificam como a tecnologia está se tornando indispensável em cenários que exigem segurança e eficiência.
Outro ponto relevante foi a crescente adoção da visão computacional em tarefas de análise de contexto de imagens. Mais do que buscar uma precisão absoluta, as soluções destacadas focam na identificação de padrões gerais, como a organização de bibliotecas e o processamento de imagens de texto em arquivos pesquisáveis, como PDFs. Além disso, o impacto da IA generativa foi amplamente discutido, especialmente na automação de processos industriais, como a análise de falhas. Sensores luminosos e sistemas inteligentes agora conseguem identificar problemas em máquinas por meio de ruídos e vibrações, prevenindo falhas críticas.
O DS Summit 2024 se consolidou como um evento de extrema importância ao promover um diálogo enriquecedor entre especialistas, startups e grandes empresas sobre o uso estratégico da ciência de dados e tecnologias emergentes. Ao abordar temas como computação quântica, inteligência artificial e visão computacional, o encontro não apenas destacou as transformações em curso, mas também delineou caminhos para um futuro mais eficiente, sustentável e inovador, reforçando a importância de parcerias entre academia, mercado e tecnologia para impulsionar a competitividade industrial.