Eficiência energética: o diferencial competitivo para as indústrias brasileiras

Insights07/10/2024
Brasil busca metas ambiciosas de eficiência energética até 2030, visando reduzir custos, emissões de carbono e promover o uso sustentável da energia no setor industrial
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Responsável por 32,3% do consumo total de energia do país e 37,3% do consumo de energia elétrica, o setor industrial tem enfrentado a necessidade de equilibrar o crescimento econômico à sustentabilidade ambiental. Considerando isso, a eficiência energética surge como uma solução central para esse desafio, principalmente nas indústrias.

Embora o Brasil venha adotando medidas para reduzir o desperdício e otimizar o uso de energia desde a crise do petróleo nos anos 1970, promover um uso mais racional e econômico dos recursos energéticos dentro das indústrias brasileiras é imprescindível para ajudar a reduzir gastos operacionais, emissões de CO₂ e estar alinhado com os compromissos globais de descarbonização, sendo uma estratégia essencial para mitigar as mudanças climáticas.

Panorama atual 

A trajetória da eficiência energética no Brasil começou de forma mais estruturada em 1981, com o lançamento do Programa Conserve. Desde então, surgiram programas importantes como o Programa de Eficiência Energética (PEE) da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e o Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica), ambos voltados para reduzir o consumo de energia e promover a conservação, especialmente na indústria.

De acordo com uma pesquisa da CNI, as instalações industriais brasileiras possuem, em média, 14 anos de idade. Anualmente, esses equipamentos e maquinários consomem aproximadamente R$ 90 bilhões em eletricidade e combustíveis. Por isso, a implementação de medidas de eficiência energética é considerada a estratégia mais eficaz para reduzir custos com energia, além de ser uma solução acessível para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). No entanto, devido à falta de conhecimento, muitas empresas deixam de adotar essas práticas, perdendo a chance de obter benefícios como maior competitividade e produtividade.

Além disso, a falta de regulamentações mais rigorosas para a eficiência energética em indústrias e edificações compromete o avanço em larga escala. Setores como o alimentício, por exemplo, têm visto um aumento substancial no consumo energético nos últimos anos.

Metas de eficiência energética 

O Brasil estabeleceu metas ambiciosas para aumentar sua eficiência energética até 2030, alinhando-se com compromissos internacionais, como o Acordo de Paris. Entre os principais objetivos estão a redução de 10% no consumo de energia elétrica até 2030, conforme estipulado pelo Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEE), e a redução das emissões de gases de efeito estufa em 43% até o mesmo ano.

Além disso, o governo tem buscado aumentar a participação de energias renováveis na matriz energética, o que complementa as metas de eficiência ao promover um uso mais limpo e sustentável de energia. Programas como o MOVER (Mobilidade Verde e Inovação), que estimula a produção de veículos híbridos flex para reduzir a emissão de gases do efeito estufa, também desempenha um papel importante ao buscar reduzir as emissões no setor de transporte, uma das áreas que mais contribuem para o consumo energético no país.

Indicadores de eficiência energética 

Para garantir que as metas sejam atingidas, o Brasil utiliza uma série de indicadores para monitorar o desempenho energético nas indústrias. A intensidade energética, que mede a quantidade de energia utilizada em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), é um dos principais indicadores, uma vez que reflete a eficiência com a qual o país converte energia em produtos e serviços.

Outro indicador essencial é o Índice de Performance Energética (IPE), que compara o consumo de energia de uma empresa com um benchmark do setor, permitindo avaliar sua eficiência. Setores como o alimentício, químico e de bens de consumo são frequentemente monitorados através desse índice, buscando identificar áreas de melhoria.

Outros indicadores incluem o consumo de energia por unidade de produção e o fator de carga, que mede a eficiência na utilização da capacidade elétrica disponível. O Selo Procel, presente em diversos eletrodomésticos e equipamentos, também tem papel importante na promoção da eficiência energética, ajudando a guiar consumidores e empresas a escolher produtos mais eficientes.

Impactos ambientais e benefícios econômicos

O aumento da eficiência energética não beneficia apenas o setor industrial em termos de economia de custos, mas também traz impactos ambientais significativos. Um dos principais resultados é a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE), uma vez que o uso mais eficiente de energia diminui a demanda por eletricidade gerada a partir de fontes fósseis, como petróleo e carvão.

Além disso, a melhoria na qualidade do ar é outro efeito positivo. Com a diminuição da queima de combustíveis fósseis, há uma redução significativa na emissão de poluentes, contribuindo para uma melhor qualidade de vida nas grandes cidades e ajudando a mitigar problemas de saúde relacionados à poluição do ar.

A eficiência energética também conserva os recursos naturais, uma vez que otimiza o uso de energia e diminui a pressão sobre fontes renováveis e não renováveis. Isso é particularmente relevante no Brasil, que possui uma vasta biodiversidade e recursos naturais, os quais são essenciais para a economia do país.

Outro benefício significativo é o atraso ou eliminação da necessidade de construção de novas usinas geradoras de energia. Ao reduzir o consumo de energia por meio de tecnologias mais eficientes, as empresas podem postergar a necessidade de investimentos em novas infraestruturas energéticas, como hidrelétricas ou termelétricas, que têm um impacto ambiental expressivo.

Vantagem competitiva

Investir em eficiência energética traz um retorno econômico direto para as indústrias. Estima-se que, até 2050, a adoção de medidas de eficiência energética no Brasil poderá gerar uma economia de R$ 10 bilhões para o setor industrial. Cada real investido em eficiência tem o potencial de gerar uma economia de R$ 3,40, de acordo com dados do Procel.

Essa economia é especialmente relevante para setores de alta intensidade energética, como o de manufatura, siderurgia e produção de alimentos. Empresas que adotam práticas mais eficientes não apenas economizam nos custos operacionais, mas também ganham competitividade no mercado global, onde o uso sustentável de recursos se tornou um critério decisivo para parceiros comerciais e investidores.

No entanto, um dos principais desafios ainda é a percepção dos investimentos em eficiência energética. Muitas indústrias ainda enxergam essas ações como um custo adicional, e não como uma oportunidade de longo prazo. Logo, superar essa visão é fundamental para que o país possa aproveitar os benefícios completos da transição para uma matriz energética mais eficiente.

Maior estabilidade e segurança

A eficiência energética tem se mostrado uma estratégia imprescindível para a indústria, gerando ganhos econômicos significativos ao reduzir custos operacionais. Com a otimização do consumo de energia por meio de tecnologias modernas e renováveis, empresas podem melhorar suas margens de lucro e aumentar a competitividade no mercado. Além disso, ao reduzir a emissão de gases poluentes, elas se alinham a metas de sustentabilidade, atraindo consumidores e investidores mais conscientes. A maior resiliência frente à volatilidade dos preços de energia também é um benefício direto, proporcionando maior estabilidade e segurança no longo prazo. Portanto, investir em eficiência energética se tornou um pilar estratégico para o crescimento sustentável da indústria.