Fertilizantes no complexo cenário mundial: o papel da inovação aplicada na manutenção de recursos básicos à humanidade
Não é de hoje que se sabe da crescente curva de densidade populacional do mundo e do consequente aumento na demanda por recursos básicos para suprir as necessidades desta população. Na década de 90 éramos pouco mais de 5,5 bilhões de pessoas no planeta e em 2020 mais de 7,7 bilhões. As estimativas da ONU traduzem a urgência deste cenário: até 2030 o mundo precisará dispor de 50% a mais de alimentos, 45% a mais de energia e 30% a mais de água. Por outro lado, temos a obviedade de nossa condição: só temos um planeta Terra e este é o fato.
Neste sentido, ao longo dos últimos anos, frentes de pesquisa de todo o mundo têm buscado por soluções como novas formas de gerar e armazenar energia de forma mais limpa e eficiente, de tratar, reutilizar e potabilizar água e de gerar alimento de forma mais rápida. Neste último aspecto, os fertilizantes - sobretudo os NPK, aqueles que são fontes de Nitrogênio, Fósforo e Potássio - têm um papel fundamental para viabilizar o desenvolvimento adequado em termos de produtividade e qualidade dos cultivos.
Hoje, o agronegócio brasileiro depende da importação de quase 75% dos fertilizantes nitrogenados, 90% do potássio e 24% do fosfato necessários para atender a demanda interna, sendo os principais países exportadores o Canadá e a Rússia. À esta altura da explanação o leitor já deve ter relacionado a essa questão outros dois fatores extras que a humanidade tem enfrentado, e que se apresentam como agravantes em alguma extensão à problemática: a guerra entre Rússia e Ucrânia/OTAN e - ainda - pandemia da Covid-19. O conflito no leste europeu vulnerabiliza a disponibilidade dos fertilizantes russos no mercado mundial, já pandemia tem acarreta a do novos episódios de lockdown na China, o que provoca consequências negativas diretas à logística internacional para importações de forma geral.
Estes fatores, na verdade, jogam luz sobre uma problemática que já se apresentava inevitável, mas que sem dúvidas torna-se mais urgente dado o contexto mundial. É nesse tipo de situação que a principal resposta vem por meio da pesquisa e da inovação. Enquanto pesquisadora envolvida com temáticas que englobam novos materiais, revestimentos inteligentes e nanotecnologia, tenho pessoalmente testemunhado uma explosão na demanda por desenvolvimentos que nos tragam, como nação, maior autonomia na obtenção de fertilizantes, sendo que tais demandas vem de indústrias tanto direta quanto indiretamente ligadas ao setor.
O panorama só é positivo se junto do aumento no interesse pelo tema tivermos incentivo e recursos para tirarmos
ideias do papel. Felizmente isso tem se concretizado e hoje vemos o lançamento de editais de subvenção
e linhas de fomento específicos para o financiamento de projetos ligados à temática de fertilizantes.
Enquanto pesquisadores, isso nos ajuda a concretizar o que pensamos como possibilidades junto à indústria: obtenção
de fertilizantes por fontes minerais alternativas, metodologias de extração de menor impacto ambiental, recuperação
de nutrientes oriundos de resíduos, produção de fertilizantes através de recursos renováveis,
aumento da eficiência dos fertilizantes já disponíveis comercialmente, associação de estratégias
biológicas e químicas, revestimentos inteligentes para evitar lixiviação, perdas e sobredosagem
no solo. As possibilidades teóricas são muitas e o trabalho de pôr a mão na massa,
ou na terra, para alavancar o que é realmente factível é nosso, dos pesquisadores. O caminho ainda
é longo, mas já estivemos mais distante. 50% a mais de alimentos, 45% a mais de energia e 30% a mais de água.
Seguimos!
Artigo de opinião escrito por Alana Cristine Pellanda, mestre em Química pela
UTFPR, pesquisadora do ISI Eletroquímica e líder técnica da área de Smart Materials do ISI-EQ.